A expressão “fusões e aquisições” já ganhou seu lugar no meio empresarial brasileiro quando se fala de compra, venda e/ou junção ou divisão de empresas.

Mas, talvez, nem todo mundo saiba o que cada expressão significa, principalmente, porque essas são traduções literais do vocabulário técnico estrangeiro (norte-americano, inglês etc.) de mergers and aquisitions ou M&A.

No Brasil, quando falamos em reorganização de empresas, os termos técnicos apropriados são fusão, cisão, incorporação e aquisição.

Agora, como se opera cada uma dessas acima? E como podemos fazer uma analogia entre as expressões brasileiras e as estrangeiras?

Vamos tentar, de forma um pouco simplória, responder essas questões.

Conforme a lei brasileira:

  • na incorporação, uma sociedade “absorve” a outra que, por sua vez, é extinta, e todo seu ativo/passivo passa ser daquela primeira;
  • na cisão, uma sociedade é “partida” e essa parte pode se tornar uma nova sociedade ou ser “absorvida” por outra sociedade já existente, sendo que a sociedade “partida” será extinta caso todas as suas “partes” sejam vertidas para outras empresas e/ou se tornem novas sociedades, caso contrário, sociedade cindida apenas “reduz de tamanho”;
  • a fusão acorre quando duas ou mais empresas se juntam, formando uma nova empresa, extinguindo-se as anteriores; e
  • a aquisição é quando uma empresa compra todas ou a maioria das ações ou cotas de outra, estabelecendo-se uma relação de controle entre a que comprou e a outra cujas ações/cotas foram compradas.

Na terminologia estrangeira, uma operação denominada de merger pode, dependendo do caso, ser comparada ao que chamamos aqui de incorporação e a fusão pode ser entendida como uma consolidation.

A expressão aquisition equivale, em geral, a uma aquisição direta de ações ou cotas.

E, quando ouvimos que uma sociedade estrangeira passou por um spin-off, podemos estar diante do que conhecemos como a citada cisão.

Importante ressaltar que, no inglês “técnico”, a figura incorporation não equivale à incorporação acima comentada.

Incorporation é quando uma sociedade é constituída na forma de uma corporation através de atos que fazem com que essa pessoa jurídica seja criada, ou seja, ela foi incorporated.

Passada essa fase de conceitos, qual operação pode ser mais apropriada?

Quando empresas querem se juntar, temos fusão, incorporação ou aquisição.

Essa escolha deve considerar um ou mais aspectos como, e.g., sinergia entre negócios, questões operacionais, impactos fiscais, concorrenciais, entre outros.

Assim, comentar na exaustão qual é a modalidade mais indicada sem um caso concreto não se mostra viável.

Contudo, algumas observações podem ser feitas.

A fusão talvez seja a modalidade menos utilizada. Não se mostra prático a extinção de empresas para se constituir uma nova.  O trabalho e burocracia de, por exemplo, de obter novos registros, licenças etc não se mostra eficiente sob vários aspectos.

Na incorporação, a incorporadora permanece ativa, substituindo a incorporada em tudo. Porém, benefícios fiscais da incorporada são extintos (junto com ela) e não podem ser transferidos à incorporadora.

Por isso, quando se cogita “qual empresa incorpora qual”, se alguma das empresas tem importantes benefícios fiscais, é provável que ela seja a incorporadora.

A aquisição é opção quando não se quer extinguir uma das sociedades, assim ambas continuam operando como entes distintos, havendo apenas uma relação de controle entre elas.

Quando se pretende “dividir” uma empresa, a escolha é mais fácil, pois a cisão é única modalidade nesse sentido, além da uma pura venda de ativos.

No mais, operações mais complexas frequentemente compreendem mais de uma das modalidades acima comentadas.

Por isso, profissionais versados em direito societário, direito tributário, contabilidade e finanças devem sempre ser ouvidos quando na escolha da melhor forma de juntar ou dividir empresas e seus negócios.

Carlos Henrique Barroso, partner da Leev Business Advisors

O varejo é uma arena implacável, onde os varejistas devem se adaptar a tendências mutáveis e navegar em mares turbulentos para satisfazer as demandas dos consumidores. Em um mundo repleto de incertezas, a criação de um plano robusto é essencial para o sucesso. 

Prepare-se para desvendar os segredos do sucesso no varejo!

Passo 1: Construção de Metas e Plano de Vendas (Open-to-Buy)

Antes de mergulharmos nas complexidades do planejamento de compras, é imperativo estabelecermos nossas metas. Imagine-se tentando montar um quebra-cabeça sem conhecer a imagem final. De maneira análoga, as metas de vendas constituem os alicerces do seu plano. Nesse primeiro passo, exploraremos como criar um orçamento que harmonize suas aspirações de crescimento com a realidade financeira do seu empreendimento.

Definindo Metas Claras

No mundo do varejo, a definição de metas claras equivale a traçar o seu destino. Antes de iniciar qualquer jornada, você precisa saber para onde está indo. Aqui, entram em cena as metas de vendas bem definidas. Elas não devem ser vagas ou arbitrárias, mas específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com um prazo (o famoso critério SMART). 

Essas metas devem considerar diversos fatores como histórico de vendas, sazonalidade, tendências de mercado e as aspirações do seu negócio. Pergunte-se: Quanto você deseja vender no próximo trimestre ou ano? Como essa meta se alinha com sua estratégia de negócios mais ampla? 

Ter metas claras não apenas direciona seus esforços, mas também fornece uma maneira objetiva de medir o sucesso.

A Importância da Revisão Contínua

Construir metas e um plano de vendas é um processo que requer revisão e ajustes contínuos. O mercado está em constante mutação, e suas metas precisam ser maleáveis o suficiente para se adaptarem a essas transformações. Isso significa que, mesmo depois de definir suas metas iniciais e Open-to-Buy (OTB), você deve realizar análises regulares para avaliar o progresso e fazer ajustes conforme necessário. 

A revisão contínua permite que você aprenda com o passado, identificando padrões e tendências que podem facilitar suas decisões futuras de compra e estoque. Portanto, lembre-se sempre: antes de comprar e estocar, estabeleça suas metas com clareza e construa uma base sólida para sustentar seu crescimento no varejo.

Passo 2: Estratégia de Coleção e Plano de Sortimento

A Estratégia de Coleção e o Plano de Sortimento são os elementos que dão vida ao seu varejo. Eles são o coração do seu negócio, determinando quais produtos você oferecerá, como eles serão apresentados e como atenderão às necessidades dos seus clientes. Neste segundo passo, exploraremos a arte e a ciência por trás da criação de uma coleção que conquiste seu mercado e gere resultados sólidos.

Coleção como Diferencial Competitivo

A Estratégia de Coleção e o Plano de Sortimento são peças-chave no quebra-cabeça do varejo de sucesso. Eles moldam a percepção da sua marca, atendem às necessidades dos clientes e garantem que seu negócio permaneça relevante no mercado. 

Ao criar uma coleção que reflita sua identidade de marca, que atenda a segmentos de mercado específicos e se adapte ao ciclo de vida dos produtos, você estará no caminho certo para construir um varejo sólido e duradouro. A coleção é muito mais do que apenas produtos; é o diferencial competitivo que define sua marca e cativa seus clientes. Portanto, lembre-se sempre: invista tempo e energia na estratégia da sua coleção, e ela recompensará seu varejo com sucesso contínuo.

Passo 3: Gestão Pré-Season: Organizando seu Cronograma de Atividades

A Gestão Pré-Season é uma fase crítica no planejamento de compras, pois é onde todas as atividades que antecedem a chegada dos produtos ao ponto de venda são cuidadosamente planejadas e coordenadas. Pode-se compará-la à preparação de um grande evento: o sucesso depende de uma organização cuidadosa e da colaboração de várias equipes.

Metodologia Workflow

A gestão pré-season envolve uma série de atividades interdependentes que abrangem diferentes áreas, desde o planejamento até a logística. Para garantir que todas essas atividades sejam executadas de forma eficiente e sincronizada, muitas empresas recorrem à metodologia workflow. 

Imagine um mapa detalhado que delineia todas as etapas, responsabilidades e prazos necessários para preparar sua coleção para o mercado. Isso inclui atividades como planejamento de vendas, desenvolvimento de produtos, negociações com fornecedores, definição de preços e muito mais. O workflow não apenas organiza todas essas atividades, mas também garante que cada equipe saiba o que precisa ser feito e quando. Ele cria transparência, alinhamento e responsabilidade em toda a organização.

O Ciclo da Cadeia de Fornecimento

Uma parte essencial da gestão pré-season é entender o ciclo da sua cadeia de suprimentos. Isso envolve mapear todo o processo, desde a seleção de fornecedores até a entrega de produtos nas suas instalações. 

Ao ter uma visão clara do ciclo da cadeia de fornecimento, você consegue identificar onde podem ocorrer atrasos e problemas e implementar medidas proativas para evitá-los. Lembre-se de que uma gestão eficiente do pré-season não apenas evita problemas, mas também abre espaço para a inovação e oportunidades estratégicas. Portanto, invista tempo e recursos na organização e colha os benefícios de um planejamento de compras sólido.

Passo 4: Gestão In-Season: O Jogo Começou, e Agora?

Agora é a hora de agir! Com os produtos nas prateleiras e online, o varejo entra em ação. Mas, como saber quando um produto está no auge e quando precisa ser ajustado? No quarto passo, exploramos o ciclo de vida do produto, identificamos a idade do estoque e debatemos a polêmica da remarcação. 

Entendendo o Ciclo de Vida do Produto

Um dos conceitos-chave nesta etapa é o ciclo de vida do produto. Cada item em seu estoque tem uma jornada desde o momento em que chega até o ponto de venda até quando é vendido ou, em alguns casos, retirado de estoque. Entender onde um produto está em seu ciclo de vida é crucial para tomar decisões baseadas em fatos e dados.

A Idade de Estoque e Seus Impactos

Outro conceito importante é a idade de estoque. Isso se refere ao tempo que um item fica no estoque antes de ser vendido. Produtos mais antigos podem ser um sinal de problemas, já que podem custar dinheiro em espaço de armazenamento e capital investido. É importante definir metas para a idade de estoque e monitorá-las de perto. Itens que estão envelhecendo devem ser analisados para determinar se é necessário tomar medidas, como redução de preços ou campanhas de marketing direcionadas.

A Remarcação: Mal Necessário?

A remarcação de produtos é uma prática comum no varejo, mas muitas vezes é vista como um último recurso. A remarcação não é apenas uma ferramenta para aumentar as vendas, mas também para liberar espaço em estoque e otimizar o capital. Neste ponto, é importante ter um plano de remarcação já definido, como parte de seu planejamento de vendas e estoque. Isso permite que você reaja rapidamente a produtos que não estão se movendo conforme o esperado, ajustando os preços para aumentar a atratividade e a rotatividade.

Passo 5: OKRs, Métricas e KPIs: Os Indicadores de Performance da sua Coleção

Finalmente, chegamos ao último passo, onde mergulhamos nas métricas e KPIs que fornecem insights valiosos sobre a saúde do seu varejo.

A Bússola da Gestão

Para garantir que sua coleção esteja no caminho certo, você deve estar sempre atento à trinca de ouro do varejo – venda, margem e giro. Não basta apenas vender muito; é importante manter margens saudáveis e evitar que os produtos fiquem parados no estoque.

Best Sellers e Slow Movers

Outra maneira de gerenciar sua coleção é identificando seus Best Sellers (produtos que vendem muito bem) e Slow Movers (produtos que têm uma rotatividade mais lenta). Essa segmentação ajuda a tomar decisões direcionadas. Por exemplo, seus Best Sellers podem ser promovidos com mais destaque nas vitrines ou em campanhas de marketing. Enquanto isso, os Slow Movers podem ser alvo de estratégias específicas, como remarcações ou agrupamentos em promoções.

Estoques Ideais de Loja: Excessos e Faltas

Finalmente, para garantir que cada loja esteja bem abastecida, é fundamental determinar os estoques ideais de loja. Isso significa levar em consideração a meta de vendas de cada local, a cobertura ideal de estoque e o ciclo da cadeia de suprimentos. Identificar excessos e faltas é fundamental para garantir que as lojas tenham o estoque certo no momento certo. O excesso de estoque pode custar dinheiro em armazenamento e reduzir a liquidez, enquanto as faltas podem resultar em perda de vendas e insatisfação do cliente.

Prepare-se para o Sucesso!

Chegamos ao final desta incrível jornada de números e estratégia. Agora, você tem as ferramentas para transformar a gestão de vendas e estoques do seu varejo. 

Lembre-se de que o sucesso no varejo não é um acidente, mas o resultado de um planejamento cuidadoso e da capacidade de adaptar-se às mudanças. Com metas claras, estratégias bem definidas, cronogramas organizados, monitoramento constante e métricas precisas, você está pronto para se destacar em um mercado competitivo.

O varejo é um mundo dinâmico e desafiador, mas também oferece oportunidades emocionantes para aqueles que estão dispostos a inovar e aprimorar constantemente suas operações. Portanto, não se acomode com o status quo. Use esses cinco passos como seu guia e continue explorando novas maneiras de atender e superar as expectativas dos seus clientes.

Agora é a hora de você assumir o controle e fazer com que seu varejo brilhe no cenário competitivo. Estamos ansiosos para ver seu sucesso nas prateleiras e online!

André Alcalde

Partner da Leev Business Advisors 

O setor do varejo vem enfrentando desafios pela disrupção sem precedentes nos últimos anos, com mudanças significativas nas expectativas e comportamentos dos consumidores, fornecedores, funcionários e investidores.

Essa transformação acelerada foi impulsionada por uma série de fatores, incluindo avanços tecnológicos, mudanças nas preferências do consumidor, a pandemia de COVID-19 e uma crescente consciência em torno de questões ambientais e sociais. Porém, essas mudanças podem gerar oportunidades.

Esse artigo, baseado no texto traduzido “Retail Reset: A New Playbook for Retail Leaders” – uma colaboração entre especialistas da McKinsey’s Retail Practice, explora as principais tendências que estão abalando a indústria do varejo, seus desafios e oportunidades.

Oferece uma visão abrangente das quatro principais áreas em que os líderes do varejo devem se concentrar para garantir o sucesso em um ambiente em constante mudança. Traz, ainda, uma análise detalhada das estratégias necessárias para que os varejistas se tornem líderes, em vez de ficarem para trás como seguidores.

Disrupção sem precedentes no varejo

Desde 2015, uma em cada cinco varejistas registrou lucro econômico negativo. E, mesmo que o setor tenha criado valor nesse período, o fosso entre vencedores e perdedores está se ampliando. Além disso, nos últimos cinco anos, a indústria do varejo passou por uma transformação massiva se comparada à ocorrida em décadas anteriores.

Todos os principais grupos de stakeholders do varejo – consumidores, fornecedores, funcionários e investidores – mudaram drasticamente seu comportamento e expectativas, simultaneamente. Isso levou a uma confluência de desafios e exige uma reavaliação radical das crenças e práticas tradicionais do varejo e a uma adaptação às oportunidades criadas.

Consumidores exigentes e em evolução 

Os consumidores estão passando por uma transformação significativa em sua jornada de compra. Antes acostumados a navegar pelas lojas e demonstrar lealdade às marcas preferidas, os consumidores agora estão mais fluidos em suas escolhas.

Eles buscam inspiração de compras em diferentes canais, como mídias sociais, celebridades e blogs, e estão optando por experiências de compra mais personalizadas, rápidas e sustentáveis. Com a crescente consciência em torno da sustentabilidade e responsabilidade social, os consumidores estão “votando com seus bolsos”, optando por produtos que refletem seus valores.

E consumidores mais exigentes, com rede de canais mais complexa, exigem dos varejistas maior investimento em infraestrutura e capacidade analítica.

Fornecedores como clientes emergentes

As relações entre varejistas e fornecedores também estão se transformando. Os varejistas não são mais apenas intermediários que compram produtos de fornecedores e os revendem para obter lucro. Em vez disso, eles estão se tornando verdadeiros parceiros em ecossistemas de varejo, compartilhando acesso a consumidores, dados e insights.

A ascensão dos marketplaces de terceiros e das redes de mídia de varejo está revolucionando a dinâmica tradicional e criando novas oportunidades para os varejistas diversificarem seus negócios.

Força de trabalho em mudança

A força de trabalho no setor varejista também está enfrentando mudanças significativas. Com a escassez de mão de obra e o aumento das expectativas dos funcionários em relação à flexibilidade e desenvolvimento de carreira, os varejistas precisam adaptar suas práticas para atrair e reter talentos.

Além disso, a revolução digital e o avanço da automação estão mudando a natureza do trabalho, tornando a capacitação de funcionários com habilidades de ciência de dados e tecnologia uma prioridade.

Crescimento e margens em foco

Os investidores do setor varejista estão cada vez mais focados em resultados de longo prazo e recompensarão as empresas que adotarem uma abordagem disciplinada em relação ao crescimento e às margens.

As margens brutas do setor atingiram seu ponto mais alto desde 2009, mas o aumento nos níveis de estoque e os custos logísticos estão pressionando a lucratividade. Os líderes do varejo precisam equilibrar o crescimento com o foco na eficiência operacional e no retorno sobre o investimento de capital.

Enfrentando os desafios do varejo e criando oportunidades

Para permanecerem relevantes e competitivas, as empresas do setor varejista precisam repensar suas estratégias e se adaptar rapidamente às mudanças em curso. Aqui estão quatro áreas cruciais em que os líderes do varejo devem se concentrar para garantir o sucesso:

  1. Fortalecer o relacionamento com o consumidor

O relacionamento com o consumidor é a moeda do varejo moderno. À medida que os consumidores se tornam mais fluidos em suas escolhas, os varejistas precisam se esforçar para cultivar uma base massiva e leal de clientes. Isso significa ir além de simplesmente vender produtos e se tornar um elemento indispensável na vida dos consumidores.

Uma abordagem eficaz é medir a “participação na vida” dos consumidores, buscando tornar-se uma presença relevante em diferentes aspectos de suas vidas. Além de oferecer produtos de alta qualidade, os varejistas devem criar experiências, serviços, inspirações e conteúdos personalizados para atender às necessidades e desejos específicos dos clientes.

É fundamental ser ágil e adaptar rapidamente as ofertas para acompanhar as mudanças nas preferências do consumidor.

As lojas físicas também desempenham um papel vital nessa estratégia, oferecendo não apenas um espaço de compras, mas também um hub para atender às demandas de logística e garantir a satisfação do cliente. As redes de lojas de varejo devem ser otimizadas para atender à crescente demanda de compras online, incluindo a capacidade de enviar produtos diretamente das lojas para os clientes.

  1. Desenvolver um ecossistema de varejo

Para vencer os desafios e gerar oportunidades, os varejistas precisam olhar além das operações tradicionais e se transformar em verdadeiros ecossistemas de varejo. Isso significa expandir suas ofertas além dos produtos de primeira mão e entrar em novas áreas de negócios, oferecendo serviços e soluções adicionais para atender às diversas necessidades dos consumidores.

A construção de um ecossistema de varejo envolve parcerias estratégicas com fornecedores, empresas de tecnologia e outros players do setor. Os varejistas podem explorar oportunidades de marketplaces de terceiros, redes de mídia de varejo e outras plataformas digitais para diversificar suas receitas e expandir sua base de clientes.

Essa abordagem requer uma liderança forte e uma visão clara para identificar oportunidades de crescimento e lucratividade. Os varejistas precisam avaliar suas capacidades internas, buscar novos talentos e formar alianças com outras empresas para expandir suas ofertas e atingir novos mercados.

  1. Investir em talentos e desenvolvimento de habilidades 

A força de trabalho no setor varejista está em constante evolução, com novas demandas por flexibilidade, desenvolvimento de carreira e habilidades digitais. Para atrair e reter talentos, os varejistas devem encontrar maneiras criativas de oferecer benefícios e oportunidades de aprendizado e crescimento.

A revolução digital, com a Inteligência Artificial, automação e os algoritmos, está tornando a ciência de dados e a análise de dados habilidades essenciais para os varejistas. Os líderes do varejo precisam investir na capacitação de sua equipe para se tornarem proficientes em lidar com dados e insights, impulsionando decisões de negócios informadas. 

Além disso, os varejistas devem se concentrar em criar uma cultura corporativa que prioriza a sustentabilidade e a responsabilidade social. Aqueles que lideram em práticas sustentáveis e demonstram compromisso com questões ambientais e sociais estão mais propensos a atrair funcionários engajados e satisfeitos.

  1. Reavaliar as estratégias

As estratégias de varejo devem ser mais flexíveis e adaptáveis do que nunca. Os líderes do setor precisam reavaliar constantemente suas estratégias para se ajustarem às mudanças nas preferências do consumidor, concorrência e avanços tecnológicos.

A reavaliação do roteiro estratégico deve ser centrada no cliente, considerando as necessidades e desejos em constante evolução do consumidor. Os varejistas devem estar dispostos a experimentar e adotar abordagens inovadoras, abandonando práticas obsoletas e buscando novas oportunidades de crescimento.

Além disso, os líderes do varejo devem priorizar a abordagem ESG em suas estratégias. Os consumidores e investidores estão cada vez mais conscientes das questões ambientais e sociais, e as empresas que lideram em sustentabilidade e responsabilidade social podem obter uma vantagem competitiva significativa.

Prosperando no varejo 

O setor varejista está enfrentando desafios e oportunidades sem precedentes em um ambiente em rápida mudança. Os líderes do varejo devem se adaptar rapidamente às mudanças nas expectativas dos consumidores, investir em tecnologia e talento, criar ecossistemas de varejo abrangentes e reavaliar constantemente suas estratégias para garantir o sucesso a longo prazo.

Ao cultivar relacionamentos mais fortes com os consumidores, diversificar suas ofertas por meio de ecossistemas de varejo, investir em talentos e promover práticas sustentáveis, os varejistas podem se posicionar como líderes em um cenário competitivo.

Aqueles que abraçam a mudança e adotam uma abordagem ágil e inovadora têm mais chance de prosperar em um futuro incerto, criando um impacto positivo para suas empresas, clientes e a sociedade como um todo.

 

Aline Autran de Morais

Partner da Leev Business Advisors

 

Fonte: McKinsey’s Retail Practice, Retail Reset: A New Playbook for Retail Leaders

O setor da moda enfrenta desafios significativos no cenário global, e é importante que os gestores brasileiros da indústria de moda estejam atentos a essas questões. Entre os desafios que afetam diretamente o setor, podemos citar:

  • a crise na cadeia de suprimentos;
  • a inflação no Hemisfério Norte;
  • o aumento do preço das matérias-primas;
  • o aumento dos custos logísticos e operacionais devido à crise energética;
  • as regulamentações que pressionam por mudanças consequentes; e
  • a necessidade de maior responsabilidade nos processos operacionais para reduzir seu impacto ambiental e social.

Algumas destas variáveis não são apenas crises passageiras, mas estão mudando o cenário econômico de maneira definitiva, o que exige uma reflexão sistêmica e mais profunda por parte dos gestores da indústria da moda.

Uma das possíveis soluções para os fabricantes brasileiros enfrentarem esses desafios é se redirecionar para um modelo que alimentaria a soberania brasileira, adotando a produção “local para local”, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo a indústria nacional. Além disso, é importante que as empresas entendam o que a indústria de vestuário soluciona para o consumidor e busquem se adaptar a um novo contexto, encontrando maneiras inovadoras de atender às demandas do mercado, se aproximando do modelo “make to order”.

Para estruturar o tecido produtivo em uma lógica de “local para local” visando otimizar os custos e manter uma distribuição equilibrada de valor, é necessário adotar uma abordagem estratégica e integrada. Primeiramente, é importante identificar os locais onde as etapas da cadeia de produção podem ser realizadas de forma mais eficiente e econômica, levando em consideração fatores como disponibilidade de matéria-prima, competências técnicas, custo da mão-de-obra e infraestrutura.

Uma estratégia viável seria concentrar as atividades que exigem alta especialização e tecnologia avançada em regiões onde essas capacidades são mais desenvolvidas, aproveitando os benefícios da aglomeração de conhecimento e expertise. Ao mesmo tempo, as etapas de produção que envolvem mão-de-obra intensiva podem ser descentralizadas para regiões com custos de mão-de-obra mais baixos, garantindo salários adequados para os trabalhadores e evitando a exploração.

Além disso, é fundamental estabelecer parcerias e colaborações entre os diferentes atores da cadeia de produção (como fabricantes, fornecedores e distribuidores) com o objetivo de promover uma distribuição justa do valor gerado. Essas parcerias devem ser pautadas pela transparência, confiança e responsabilidade, garantindo que todas as partes envolvidas recebam uma remuneração adequada pelo seu trabalho e contribuição.

Por fim, a adoção de tecnologias avançadas e sistemas de gestão eficientes pode otimizar o fluxo de produção e reduzir custos, permitindo uma melhor distribuição de valor ao longo da cadeia produtiva. Isso inclui o uso de automação, análise de dados, rastreabilidade e logística inteligente, entre outras soluções tecnológicas.

Em resumo, para estruturar o tecido produtivo em uma lógica de “local para local” e otimizar os custos, é necessário um planejamento estratégico que leve em consideração as capacidades locais, a especialização técnica, os custos de mão-de-obra e as parcerias colaborativas. Dessa forma, é possível alcançar uma distribuição equilibrada de valor, com margens adequadas e salários justos para a mão-de-obra, promovendo uma cadeia de produção mais sustentável e equitativa.

Nesse sentido, o mercado brasileiro pode se beneficiar ao investir em inovações frugais, economia circular e otimização do tecido produtivo. Ao adotar práticas de produção mais eficientes e sustentáveis, as empresas de moda podem reduzir custos operacionais, acessar novos mercados, contribuir para a sustentabilidade ambiental, aumentar a resiliência e segurança da cadeia de suprimentos, atrair investimentos e cumprir regulamentações e demandas do mercado, tanto no Brasil quanto no exterior. A crise de reputação chinesa na indústria têxtil pode abrir oportunidades para a indústria brasileira exportar para o Hemisfério Norte.

Com a crescente preocupação em relação às condições de trabalho, direitos humanos e impacto ambiental na China, os consumidores e empresas estão buscando alternativas mais éticas e sustentáveis em suas cadeias de suprimentos. Nesse contexto, a indústria têxtil brasileira pode se posicionar como uma opção atrativa, oferecendo produtos de qualidade, produzidos de forma responsável e em conformidade com as regulamentações internacionais. Essa mudança na demanda pode representar uma oportunidade para os fabricantes brasileiros expandirem sua presença no mercado global e estabelecerem parcerias comerciais sólidas com empresas do Hemisfério Norte.

Essas são apenas algumas das vantagens que o mercado brasileiro pode ter ao investir em inovações frugais, economia circular e otimização do tecido produtivo. Ao adotar abordagens mais sustentáveis e eficientes, as empresas de moda brasileiras podem melhorar sua competitividade, reduzir impactos ambientais e contribuir para um futuro mais sustentável. É crucial que os gestores brasileiros da indústria do varejo de moda estejam cientes dessas oportunidades e desafios para imaginar e cocriar possíveis soluções, promovendo um diálogo aberto e colaborativo entre as empresas e outras partes interessadas.

Você está disposto a embarcar nessa jornada de transformação e colaboração? Então, vamos conversar e explorar juntos as oportunidades de inovação para a indústria da moda brasileira, compartilhando conhecimentos e ideias para enfrentar esses desafios.

Milena Amaral
Partner da Leev Business Advisors