O setor da moda enfrenta desafios significativos no cenário global, e é importante que os gestores brasileiros da indústria de moda estejam atentos a essas questões. Entre os desafios que afetam diretamente o setor, podemos citar:
- a crise na cadeia de suprimentos;
- a inflação no Hemisfério Norte;
- o aumento do preço das matérias-primas;
- o aumento dos custos logísticos e operacionais devido à crise energética;
- as regulamentações que pressionam por mudanças consequentes; e
- a necessidade de maior responsabilidade nos processos operacionais para reduzir seu impacto ambiental e social.
Algumas destas variáveis não são apenas crises passageiras, mas estão mudando o cenário econômico de maneira definitiva, o que exige uma reflexão sistêmica e mais profunda por parte dos gestores da indústria da moda.
Uma das possíveis soluções para os fabricantes brasileiros enfrentarem esses desafios é se redirecionar para um modelo que alimentaria a soberania brasileira, adotando a produção “local para local”, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo a indústria nacional. Além disso, é importante que as empresas entendam o que a indústria de vestuário soluciona para o consumidor e busquem se adaptar a um novo contexto, encontrando maneiras inovadoras de atender às demandas do mercado, se aproximando do modelo “make to order”.
Para estruturar o tecido produtivo em uma lógica de “local para local” visando otimizar os custos e manter uma distribuição equilibrada de valor, é necessário adotar uma abordagem estratégica e integrada. Primeiramente, é importante identificar os locais onde as etapas da cadeia de produção podem ser realizadas de forma mais eficiente e econômica, levando em consideração fatores como disponibilidade de matéria-prima, competências técnicas, custo da mão-de-obra e infraestrutura.
Uma estratégia viável seria concentrar as atividades que exigem alta especialização e tecnologia avançada em regiões onde essas capacidades são mais desenvolvidas, aproveitando os benefícios da aglomeração de conhecimento e expertise. Ao mesmo tempo, as etapas de produção que envolvem mão-de-obra intensiva podem ser descentralizadas para regiões com custos de mão-de-obra mais baixos, garantindo salários adequados para os trabalhadores e evitando a exploração.
Além disso, é fundamental estabelecer parcerias e colaborações entre os diferentes atores da cadeia de produção (como fabricantes, fornecedores e distribuidores) com o objetivo de promover uma distribuição justa do valor gerado. Essas parcerias devem ser pautadas pela transparência, confiança e responsabilidade, garantindo que todas as partes envolvidas recebam uma remuneração adequada pelo seu trabalho e contribuição.
Por fim, a adoção de tecnologias avançadas e sistemas de gestão eficientes pode otimizar o fluxo de produção e reduzir custos, permitindo uma melhor distribuição de valor ao longo da cadeia produtiva. Isso inclui o uso de automação, análise de dados, rastreabilidade e logística inteligente, entre outras soluções tecnológicas.
Em resumo, para estruturar o tecido produtivo em uma lógica de “local para local” e otimizar os custos, é necessário um planejamento estratégico que leve em consideração as capacidades locais, a especialização técnica, os custos de mão-de-obra e as parcerias colaborativas. Dessa forma, é possível alcançar uma distribuição equilibrada de valor, com margens adequadas e salários justos para a mão-de-obra, promovendo uma cadeia de produção mais sustentável e equitativa.
Nesse sentido, o mercado brasileiro pode se beneficiar ao investir em inovações frugais, economia circular e otimização do tecido produtivo. Ao adotar práticas de produção mais eficientes e sustentáveis, as empresas de moda podem reduzir custos operacionais, acessar novos mercados, contribuir para a sustentabilidade ambiental, aumentar a resiliência e segurança da cadeia de suprimentos, atrair investimentos e cumprir regulamentações e demandas do mercado, tanto no Brasil quanto no exterior. A crise de reputação chinesa na indústria têxtil pode abrir oportunidades para a indústria brasileira exportar para o Hemisfério Norte.
Com a crescente preocupação em relação às condições de trabalho, direitos humanos e impacto ambiental na China, os consumidores e empresas estão buscando alternativas mais éticas e sustentáveis em suas cadeias de suprimentos. Nesse contexto, a indústria têxtil brasileira pode se posicionar como uma opção atrativa, oferecendo produtos de qualidade, produzidos de forma responsável e em conformidade com as regulamentações internacionais. Essa mudança na demanda pode representar uma oportunidade para os fabricantes brasileiros expandirem sua presença no mercado global e estabelecerem parcerias comerciais sólidas com empresas do Hemisfério Norte.
Essas são apenas algumas das vantagens que o mercado brasileiro pode ter ao investir em inovações frugais, economia circular e otimização do tecido produtivo. Ao adotar abordagens mais sustentáveis e eficientes, as empresas de moda brasileiras podem melhorar sua competitividade, reduzir impactos ambientais e contribuir para um futuro mais sustentável. É crucial que os gestores brasileiros da indústria do varejo de moda estejam cientes dessas oportunidades e desafios para imaginar e cocriar possíveis soluções, promovendo um diálogo aberto e colaborativo entre as empresas e outras partes interessadas.
Você está disposto a embarcar nessa jornada de transformação e colaboração? Então, vamos conversar e explorar juntos as oportunidades de inovação para a indústria da moda brasileira, compartilhando conhecimentos e ideias para enfrentar esses desafios.
Milena Amaral
Partner da Leev Business Advisors