O setor do varejo vem enfrentando desafios pela disrupção sem precedentes nos últimos anos, com mudanças significativas nas expectativas e comportamentos dos consumidores, fornecedores, funcionários e investidores.

Essa transformação acelerada foi impulsionada por uma série de fatores, incluindo avanços tecnológicos, mudanças nas preferências do consumidor, a pandemia de COVID-19 e uma crescente consciência em torno de questões ambientais e sociais. Porém, essas mudanças podem gerar oportunidades.

Esse artigo, baseado no texto traduzido “Retail Reset: A New Playbook for Retail Leaders” – uma colaboração entre especialistas da McKinsey’s Retail Practice, explora as principais tendências que estão abalando a indústria do varejo, seus desafios e oportunidades.

Oferece uma visão abrangente das quatro principais áreas em que os líderes do varejo devem se concentrar para garantir o sucesso em um ambiente em constante mudança. Traz, ainda, uma análise detalhada das estratégias necessárias para que os varejistas se tornem líderes, em vez de ficarem para trás como seguidores.

Disrupção sem precedentes no varejo

Desde 2015, uma em cada cinco varejistas registrou lucro econômico negativo. E, mesmo que o setor tenha criado valor nesse período, o fosso entre vencedores e perdedores está se ampliando. Além disso, nos últimos cinco anos, a indústria do varejo passou por uma transformação massiva se comparada à ocorrida em décadas anteriores.

Todos os principais grupos de stakeholders do varejo – consumidores, fornecedores, funcionários e investidores – mudaram drasticamente seu comportamento e expectativas, simultaneamente. Isso levou a uma confluência de desafios e exige uma reavaliação radical das crenças e práticas tradicionais do varejo e a uma adaptação às oportunidades criadas.

Consumidores exigentes e em evolução 

Os consumidores estão passando por uma transformação significativa em sua jornada de compra. Antes acostumados a navegar pelas lojas e demonstrar lealdade às marcas preferidas, os consumidores agora estão mais fluidos em suas escolhas.

Eles buscam inspiração de compras em diferentes canais, como mídias sociais, celebridades e blogs, e estão optando por experiências de compra mais personalizadas, rápidas e sustentáveis. Com a crescente consciência em torno da sustentabilidade e responsabilidade social, os consumidores estão “votando com seus bolsos”, optando por produtos que refletem seus valores.

E consumidores mais exigentes, com rede de canais mais complexa, exigem dos varejistas maior investimento em infraestrutura e capacidade analítica.

Fornecedores como clientes emergentes

As relações entre varejistas e fornecedores também estão se transformando. Os varejistas não são mais apenas intermediários que compram produtos de fornecedores e os revendem para obter lucro. Em vez disso, eles estão se tornando verdadeiros parceiros em ecossistemas de varejo, compartilhando acesso a consumidores, dados e insights.

A ascensão dos marketplaces de terceiros e das redes de mídia de varejo está revolucionando a dinâmica tradicional e criando novas oportunidades para os varejistas diversificarem seus negócios.

Força de trabalho em mudança

A força de trabalho no setor varejista também está enfrentando mudanças significativas. Com a escassez de mão de obra e o aumento das expectativas dos funcionários em relação à flexibilidade e desenvolvimento de carreira, os varejistas precisam adaptar suas práticas para atrair e reter talentos.

Além disso, a revolução digital e o avanço da automação estão mudando a natureza do trabalho, tornando a capacitação de funcionários com habilidades de ciência de dados e tecnologia uma prioridade.

Crescimento e margens em foco

Os investidores do setor varejista estão cada vez mais focados em resultados de longo prazo e recompensarão as empresas que adotarem uma abordagem disciplinada em relação ao crescimento e às margens.

As margens brutas do setor atingiram seu ponto mais alto desde 2009, mas o aumento nos níveis de estoque e os custos logísticos estão pressionando a lucratividade. Os líderes do varejo precisam equilibrar o crescimento com o foco na eficiência operacional e no retorno sobre o investimento de capital.

Enfrentando os desafios do varejo e criando oportunidades

Para permanecerem relevantes e competitivas, as empresas do setor varejista precisam repensar suas estratégias e se adaptar rapidamente às mudanças em curso. Aqui estão quatro áreas cruciais em que os líderes do varejo devem se concentrar para garantir o sucesso:

  1. Fortalecer o relacionamento com o consumidor

O relacionamento com o consumidor é a moeda do varejo moderno. À medida que os consumidores se tornam mais fluidos em suas escolhas, os varejistas precisam se esforçar para cultivar uma base massiva e leal de clientes. Isso significa ir além de simplesmente vender produtos e se tornar um elemento indispensável na vida dos consumidores.

Uma abordagem eficaz é medir a “participação na vida” dos consumidores, buscando tornar-se uma presença relevante em diferentes aspectos de suas vidas. Além de oferecer produtos de alta qualidade, os varejistas devem criar experiências, serviços, inspirações e conteúdos personalizados para atender às necessidades e desejos específicos dos clientes.

É fundamental ser ágil e adaptar rapidamente as ofertas para acompanhar as mudanças nas preferências do consumidor.

As lojas físicas também desempenham um papel vital nessa estratégia, oferecendo não apenas um espaço de compras, mas também um hub para atender às demandas de logística e garantir a satisfação do cliente. As redes de lojas de varejo devem ser otimizadas para atender à crescente demanda de compras online, incluindo a capacidade de enviar produtos diretamente das lojas para os clientes.

  1. Desenvolver um ecossistema de varejo

Para vencer os desafios e gerar oportunidades, os varejistas precisam olhar além das operações tradicionais e se transformar em verdadeiros ecossistemas de varejo. Isso significa expandir suas ofertas além dos produtos de primeira mão e entrar em novas áreas de negócios, oferecendo serviços e soluções adicionais para atender às diversas necessidades dos consumidores.

A construção de um ecossistema de varejo envolve parcerias estratégicas com fornecedores, empresas de tecnologia e outros players do setor. Os varejistas podem explorar oportunidades de marketplaces de terceiros, redes de mídia de varejo e outras plataformas digitais para diversificar suas receitas e expandir sua base de clientes.

Essa abordagem requer uma liderança forte e uma visão clara para identificar oportunidades de crescimento e lucratividade. Os varejistas precisam avaliar suas capacidades internas, buscar novos talentos e formar alianças com outras empresas para expandir suas ofertas e atingir novos mercados.

  1. Investir em talentos e desenvolvimento de habilidades 

A força de trabalho no setor varejista está em constante evolução, com novas demandas por flexibilidade, desenvolvimento de carreira e habilidades digitais. Para atrair e reter talentos, os varejistas devem encontrar maneiras criativas de oferecer benefícios e oportunidades de aprendizado e crescimento.

A revolução digital, com a Inteligência Artificial, automação e os algoritmos, está tornando a ciência de dados e a análise de dados habilidades essenciais para os varejistas. Os líderes do varejo precisam investir na capacitação de sua equipe para se tornarem proficientes em lidar com dados e insights, impulsionando decisões de negócios informadas. 

Além disso, os varejistas devem se concentrar em criar uma cultura corporativa que prioriza a sustentabilidade e a responsabilidade social. Aqueles que lideram em práticas sustentáveis e demonstram compromisso com questões ambientais e sociais estão mais propensos a atrair funcionários engajados e satisfeitos.

  1. Reavaliar as estratégias

As estratégias de varejo devem ser mais flexíveis e adaptáveis do que nunca. Os líderes do setor precisam reavaliar constantemente suas estratégias para se ajustarem às mudanças nas preferências do consumidor, concorrência e avanços tecnológicos.

A reavaliação do roteiro estratégico deve ser centrada no cliente, considerando as necessidades e desejos em constante evolução do consumidor. Os varejistas devem estar dispostos a experimentar e adotar abordagens inovadoras, abandonando práticas obsoletas e buscando novas oportunidades de crescimento.

Além disso, os líderes do varejo devem priorizar a abordagem ESG em suas estratégias. Os consumidores e investidores estão cada vez mais conscientes das questões ambientais e sociais, e as empresas que lideram em sustentabilidade e responsabilidade social podem obter uma vantagem competitiva significativa.

Prosperando no varejo 

O setor varejista está enfrentando desafios e oportunidades sem precedentes em um ambiente em rápida mudança. Os líderes do varejo devem se adaptar rapidamente às mudanças nas expectativas dos consumidores, investir em tecnologia e talento, criar ecossistemas de varejo abrangentes e reavaliar constantemente suas estratégias para garantir o sucesso a longo prazo.

Ao cultivar relacionamentos mais fortes com os consumidores, diversificar suas ofertas por meio de ecossistemas de varejo, investir em talentos e promover práticas sustentáveis, os varejistas podem se posicionar como líderes em um cenário competitivo.

Aqueles que abraçam a mudança e adotam uma abordagem ágil e inovadora têm mais chance de prosperar em um futuro incerto, criando um impacto positivo para suas empresas, clientes e a sociedade como um todo.

 

Aline Autran de Morais

Partner da Leev Business Advisors

 

Fonte: McKinsey’s Retail Practice, Retail Reset: A New Playbook for Retail Leaders

Muito se fala em transformação digital no varejo – que obviamente começa por revisitar questões de cultura, pessoas, liderança, design organizacional e modelos de negócio.

No entanto, temos que estar atentos às mudanças sociais e econômicas em geral, tais como comportamentos das pessoas, mercados, evolução da ciência e tecnologia, velocidade das mudanças, etc.

Mesmo assim, isso tudo pode não ser suficiente. É preciso algo mais…

O objetivo deste texto é reforçar que, no varejo em específico, a transformação digital e de negócio não vai estar completa ou estrategicamente endereçada se não for feita no nível dos processos core de negócio, tais como inteligência comercial (e.g. AI/ML, Analytics, Merchandise Planning, Demand Forecasting, etc.), ciclo de vida dos produtos, gestão dos estoques end-to-end, supply chain, canais de venda, relacionamento com o cliente em todos os ambientes (físicos ou digitais) e Omni-Intelligence, que representa a dimensão de um profundo conhecimento do cliente e sua jornada de interação nos diferentes pontos de contato, do mercado, de produto e serviços, através de dados e de todo o saber relacionado.

A reflexão que quero trazer é que ainda é comum observarmos empresas de médio e grande porte executando os seus processos core – tais como ciclo de vida de produtos – de forma totalmente manual ou, eventualmente, analógica.

Outros exemplos são a tentativa de operar processos de previsão de demanda e reposição de produtos manualmente ou recorrendo a técnicas antigas (podendo algumas delas ser consideradas rudimentares) e não otimizadas para os desafios atuais.

Em contrapartida, em outros processos de back-office, os investimentos em softwares e tecnologias são milionários – o que não está necessariamente errado.

Líderes, principalmente diretores e conselheiros, têm que avaliar esta questão com muita profundidade, fazendo perguntas para si, para seus pares e demais líderes na empresa:

O que é esse negócio? O que sustenta esse negócio? Qual origem e essência deste negócio? O que pode tirar esse negócio do mercado? Quais ações de transformação podem ser feitas na causa raiz que vão beneficiar toda a cadeia?

Por fim, fica a provocação de que aproximadamente 90% do que lemos e ouvimos não parece necessariamente novo, o que demonstra estar faltando execução e entrega de valor!

Emerson Kuze, sócio-fundador da Leev Business Advisors, CEO da IKSTech e membro do comitê de gestão da +praTi